No dia 08 de setembro foi realizado, na Instituto Estadual de
Educação São Francisco Xavier, mais uma oficina do Programa Escolas
Interculturais de Fronteira, ministrada pela professora Neusete Machado Rigo,
da UFFS – Campus Cerro Largo. Com o tema “Projetos Pedagógicos”. Nesse encontro as professoras tiveram a oportunidade
de apresentar suas propostas inicias de projetos de pesquisa, os quais desejam
realizar com seus alunos.
Foi
um encontro muito interessante porque as professoras trouxeram suas práticas com
projetos desenvolvidos em outros momentos e estes serviram de “ponta pé
inicial” para o planejamento de outros. Assistimos a um vídeo produzido por uma
das professoras sobre um passeio que os alunos haviam realizado nas águas do
rio Uruguai. A partir dalí criamos um planejamento viável, como um exemplo do
que poderia ser feito a seguir:
Título do projeto: “O rio que nos une/separa”
Aspectos a pesquisar:
1. Como vivem as pessoas às margens do rio? (sua vida, seus
credos, moradia, alimentação, arte, sonhos, esperanças...)
2. A importância do rio Uruguai para essas pessoas.
3. As relações entre o Brasil e Argentina.
4. As enchentes: seus efeitos, suas origens...
5. As barragens: benefícios, prejuízos...
Como fazemos a pesquisa? (metodologia)
1. Passeios
2. Entrevistas
3. Observações
4. Maquetes
5. Pesquisas bibliográficas
Quando faremos?
Quem participará?
O que faremos para socializar/sistematizar o que
pesquisamos?
No
dia 14 de agosto, ocorreu mais uma oficina da professora Neusete Machado Rigo,
da UFFS- campus de Cerro Largo, na Escola Estadual Antônio Fioravante -CIEP. A
seguir, disponibilizamos o esquema utilizado no encontro.
1. Objetivo:Planejar a organização dos
projetos de aprendizagem para serem propostos nas turmas com os alunos.
2. Desenvolvimento:
2.1. Retomar a proposta de
projeto iniciada no encontro anterior. Em grupos organizar a proposta: qual é o
problema, o que sabemos, o que queremos saber, como vamos fazer para saber?
Socialização das propostas.
2.2.Planejar o trabalho a ser
encaminhado com os alunos. Definir como vamos problematizar a realidade para
que os alunos possam perceber um problema: um vídeo, recortes de jornal,
músicas...
Definir:
O QUE
COMO
QUANDO
2.2 COMO PODEMOS TRABALHAR COM
PROJETOS DE PESQUISA EM SALA DE AULA?
1. Levar os alunos a observarem
a realidade para pensar uma problemática que envolve a diversidade cultural.
Como fazer?
Partir de uma PROBLEMATIZAÇÃO
INICIAL, que pode ser: um vídeo, uma notícia, uma figura, fotos...
Ex 1: Diversidade cultural: Raça
Observe as frases abaixo:
1.”Meninas
não devem brincar com meninos.”
2.”Mamãe
é a rainha do lar, papai é o chefe da casa”.
3
“Meninas não jogam bola, brincam com bonecas”
4.”Homem
não chora”.
O que você pensa sobre elas?
Para
dialogar:
1.Na tua opinião existem comportamentos,
brincadeiras, jogos, trabalhos, cores... que são para os meninos e outros que
são para as meninas?
2.Na relação entre meninos(homens) e meninas(mulheres) existe um que é melhor ou
mais que o outro, ou que possua mais direitos que o outro?
2. Organizar com os alunos o
trabalho de pesquisa:
Como fazer?
1. Definir a temática.
2. Apresentar o problema.
3. O que queremos saber sobre?
4. Por que queremos saber isso?
5. Como faremos para saber o que queremos?
Este é o momento de planejamento
que os alunos elaborarão para dar visibilidade ao estudo que querem fazem. É um
momento que precisa da orientação do professor.
3. Acompanhar o trabalho de
pesquisa sugerindo, disponibilizando material, ajudando a organizar o material,
orientando em alguma escrita ou outro tipo de produção.
4. Socializar os estudos
produzidos pelos alunos.
VÍDEO BONECA NEGRA
O encontro tinha por objetivo encaminhar com
as professoras possibilidades para pensar um projeto de pesquisa com os alunos,
relacionado à interculturalidade. Por isso, trouxemos como elementos
problematizadores questões realacionadas ao negro e à questão de gênero.
Assistimos a um vídeo que apresenta uma pesquisa realizada com crianças brancas
e negras nos EUA, o qual demonstra como elas estão subjetivadas a aceitar o
branco e a negar o negro, adjetivando este como mau, feio e “não amigo”. Isso
as leva a atitudes de preconceito e discriminação. Outra reflexão realizada a partir
das tirinhas da Mafalda, tinha como foco a questão de gênero, como uma
discussão necessária para repensar as práticas que vivenciamos na escola, na
família e na sociedade.
A
partir desses dois temas encaminhamos para que as professoras pensassem em suas
escolas possibilidades de construir propostas coletivas de trabalho, que
partissem das leituras de mundo que os alunos conseguem fazer e assim, planejar
pesquisas que venham a responder aos seus questionamentos.
Foi
uma manhã de discussão em que “desenhamos” possibilidades para que os projetos
de pesquisa estejam presente nos currículos das escolas e, desta forma,
possamos modificar pensamentos e realidades acerca do contexto cultural em que
vivemos.
No dia 18 de outubro, a Oficina
“Teatro Como Experiência Estética”, realizada em Porto Xavier – RS, desenvolveu noções sobre bonecos de manipulação
a vista, jogos e exercícios preparatórios, elementos técnicos do teatro e
improvisação de pequenas cenas.
Os professores participantes da oficina confeccionaram um
protótipo de boneco de manipulação à vista, a partir da utilização de materiais
simples, como folhas de jornal. Em seguida, realizaram exercícios de
manipulação em dupla do boneco, explorando movimentos e ações.
Os exercícios e jogos preparatórios desenvolvidos na
oficina possibilitam trabalhar elementos básicos, como: foco; percepção; ritmo;
atenção e concentração; o trabalho em grupo; a expressão corporal; respiração, etc.
Já os exercícios técnicos e a improvisação de cenas
permitem abordar alguns elementos fundamentais para o fazer teatral, como:
criação de personagens, espaço cênico e ação. Além desses itens, a oficina
também propôs a discussão sobre as etapas e conceitos implicados na criação de
um espetáculo de teatro. Os participantes da oficina puderam conhecer, através
de imagens, um pouco do processo de trabalho do Grupo de Teatro A Turma do
Dionísio, que atua na área há mais de 28 anos e pesquisa a interação entre o
teatro de atores e o teatro de Formas Animadas.
Para a pesquisadora Ana Maria Amaral, a expressão Teatro de
Formas Animadas abrange um amplo campo da produção teatral, que inclui o teatro
de bonecos, o teatro de máscaras e o teatro de objetos. O termo “forma” é usado
pela autora para “expressar a
materialização de uma ideia” e está relacionado à ideia de animação, ou
seja, à possibilidade de provocar uma espécie de “ilusão de vida” a algo
inanimado. É a relação entre movimento e energia que possibilita essa ilusão.
O Teatro Como
Experiência Estética, oficina coordenada
pela atriz Maristela Marasca, propõe a observação e a reflexão sobre as
experiências estéticas cotidianas e nas linguagens teatrais. O encontro foi
realizado no Instituto Estadual de Educação São Xavier e contou com a
participação de professores de diversas áreas do conhecimento, que atuam em
escolas parceiras do Programa.
A Oficina integra as atividades do Programa Escolas
Interculturais de Fronteira (PEIF), desenvolvido pelo Ministério da Educação em
cidades de fronteira do Mercosul e
países envolvidos: Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
No último dia 18
de agosto ocorreu mais um encontro do PEIF, no Instituto Estadual de Educação
São Francisco Xavier. A oficina foi ministrada pelo professor Lívio Arenhart, o
qual disponibilizou uma resenha sobre o encontro.
As concepções monoculturalistasde
totalidades sociais pressupunham a homogeneidade das suas respectivas partes e
se admitiam como teorias gerais, inclusive, da transformação social. Uma teoria
geral da transformação era considerada necessária e operacional à parte que
acreditava poder representar a totalidade e se autoproclamar sujeito da
história. Ora, acreditamos, hoje, que a experiência social é muito mais ampla e
variada do que o que a tradição científica e filosófica ocidental conhece e
considera importante. Nenhuma teoria geral pode abarcar a totalidade das
experiências sociais. Como sugere Boaventura de Sousa Santos, temos que criar,
hoje, o espaço-tempo necessário para
conhecer e valorizar a inesgotável experiência social em curso e,
simultaneamente,criar uma
inteligibilidade recíproca entre experiências disponíveis e possíveis. Este último aspecto é o que, por influência de
RaimonPanikkar, ele chama de tradução
intercultural.
O trabalho de tradução,
neste sentido, convém ser conduzido por uma metodologia que não se limita a
aplicar uma técnica de interpretação. De acordo com Panikkar, essa metodologia
implica saber operar com algumas distinções conceptuais, que a sustentam e
legitimam: conceito/símbolo, logos/mythos, alius/alter,
multiculturalismo/interculturalidade. A explicitação e articulação adequada
desses pares conceptuais, entre outros, formam o marco categorial pressuposto
pela metodologia da tradução intercultural que Panikkar denominou“hermenêutica
diatópica”.
Justifica-se essa
metodologia tanto pelo fato de evitar o desperdício da experiência e o
epistemocídio das formas de saber que não seguem exatamente os princípios e
normas de ciência ocidental quanto pelo fato de proceder ao desarmamento
cultural e ao diálogo intercultural e inter-religioso como condições
necessárias para a solução dos grandes problemas da humanidade e para a urgente
construção de um mundo de paz.
O trabalho de
tradução incide tanto sobre os saberes
como sobre as práticas e seus
agentes. A tradução entre saberes
consiste no trabalho de interpretação entre duas ou mais culturas com vistas a identificar preocupações isomórficas
entre elas e as diferentes respostas que fornecem para elas. Ora, como, no
diálogo entre pessoas de culturas distintas, nem sempre é possível uma comunhão conceptual, é de capital
importância o pensamento simbólico, o qual não é objetivo nem subjetivo,
mas essencialmente dialogal. A
compreensão recíproca de pontos de vista de falantes de culturas diferentes
implica certa participação num universo simbólico que não é exclusivamente
epistemológico. Com efeito, a
consciência simbólica ou mítica permite-nos “ver” as coisas do nosso mundo
prático numa dimensão de abertura
prévia ao entendimento lógico, pelo qual podemos “observá-las” e
analisá-las. Os mitos são aquilo que nos dá a base em que a uma questão
enquanto questão tem sentido,
que nos oferece o horizonte de inteligibilidade no qual temos necessidade de
colocar não importa qual ideia, convicção ou ato de consciência para que possa
ser captado pelo nosso espírito.
O melhor exemplo
de tradução intercultural pela metodologia da hermenêutica diatópica são os
estudos que explicitam a tensa relação simbólica entre a noção ocidental de
Direitos Humanos e as expressões simbólicas islâmica de umma(comunidade), hindudedharma(harmonia cósmica
que envolve o ser humano e todos os demais seres) e africana/bantu de ubuntu
(princípio do compartilhamento de
cuidado mútuo); pertencendo a culturas profundamente distintas e situando-se em
campos sociais diversos, as quatro noções expressam preocupações convergentes
com a dignidade humana.
Livio Osvaldo
Arenhart
MASOLO, Dismas A. Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva
africana. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Org.). Epistemologias
do Sul. Coimbra: Almedina, 2009, p. 507-527.
PANIKKAR,
Raimundo. Paz e Interculturalidad: una reflexión filosófica. Barcelona: Herder, 2006.
________. Seria a noção de direitos humanos um conceito universal? In:
BALDI, César Augusto (Org.). Direitos Humanos na Sociedade Cosmopolita.
Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 205-238.
RAMOSE, Mogobe B. Globalização e ubuntu. In: SANTOS, Boaventura de
Sousa; MENESES, Maria Paula (Org.). Epistemologias do Sul. Coimbra:
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SANTOS, Boaventura de Souza. Por uma concepção multicultural dos Direitos
Humanos. In: BALDI, César Augusto (Org.). Direitos Humanos na Sociedade
Cosmopolita. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 239-277).