SEMINÁRIO
DE ABERTURA DO PROJETO ESCOLAS
INTERCULTURAIS DE FRONTEIRAS
MEMÓRIA
PARA APRESENTAÇÃO
EU, GRACIELE, 49 ANOS... PROFESSORA
Meu nome é
Graciele Fabricio e tenho 49 anos. Sou professora desde os 17 anos. Gosto de
ser professora mas penso que poderia ter escolhido outra profissão quando me
deparo com um elemento que é essencial para viver melhor: condições adequadas
de trabalho e não estou falando especificamente e exclusivamente de uma questão
bastante pertinente que é a salarial. Estou falando do ponto de vista da
valorização individual no espaço das escolas e das condições de organização
para o trabalho que inclui desde a situação do transporte que nos leva até a
escola e especialmente no meu caso que sou adepta a idéia de transporte coletivo e usuária
deste sistema, até a questão da forma como
estão organizados os horários de trabalho, o tempo que temos para
planejamento, o tempo que temos para estudo (e que se difere da questão do
planejamento) e ainda a situação precária em termos de equipamentos. Desta
forma sempre afirmo que mesmo que as condições do ponto de vista material
(equipamentos e recursos – livros didáticos e para nossa formação, equipamentos
como multimídia e outros) tenha melhorado, ainda somos trabalhadores que atuam
sob condições adversas. Afinal o Estado, seja ele no âmbito municipal, estadual
e federal ainda não é capaz de efetivar na prática a prioridade para a Educação
– está nos discursos, nas campanhas, mas não chega a se apresentar na rotina e
no cotidiano da escola. Então muitas vezes eu afirmo nesta situação que o que
anda nas bocas não chega até a cabeça. E
este é um dito popular que uso em muitas situações – o que anda nas cabeças
anda nas bocas, mas as vezes o que anda nas bocas não faz as cabeças, enfim,
existe muitas possibilidades...
Então, somos
nós que fazemos a diferença.
Se a atuação
do professora acontece em situação adversa ou relativamente adversa pode-se
afirmar que somos sim sujeitos e sujeitas corajosos, eu me vejo assim e vejo a
imensa maioria dos colegas igualmente desta forma. Assim, penso não ser
adequado fazer julgamentos de como um ou outro atua, fazemos comentários,
observações, mas na verdade, muitas das críticas que fazemos tem relação com um
certo desânimo que vivemos com relação a profissão que escolhemos e a
preocupação que se apresenta sobre o futuro da escola e das pessoas que estão
ou estarão nela. É assim. Estamos realmente preocupados com o que parece estar
escorregando de nossas mãos – a capacidade de ensinar. Crianças e adolescentes
que estão em nossa escolas são absurdamente diferentes do que éramos, do como
eram nossos pais ou outros. A diferença é que
o mundo está diferente, nós estamos diferentes sem ter efetivamente tido
tempo de compreender determinadas mudanças – mas isto também acontece com estes
que estão na escola agora como
estudantes – eles tem uma sede imensa de compreender cada mudança a qual estão
submetidos e a qual ao mesmo tempo promovem... mas pensando bem, mais estão
submetidos do que efetivamente promovem. As mudanças nas relações de trabalho,
na família, na vizinhança não são fáceis de entender e assimilar. Alguns chegam
a dizer que nada muda, mas muda tanto que não se tem tempo para compreender.
Ah, mas como
eu gostaria de pensar como penso agora quando eu comecei a ser professora, como
eu gostaria de dizer o que digo agora no início de minha atuação como
professora... só isso, e isso a gente leva pra vida ... como eu queria ter 18,
25, 35 e pensar como eu penso agora, ser como eu sou agora. Certamente cada um
de nós pensa que viveria melhor... mas pense bem... somos o que somos pelo que
vivemos. Existe até uma musica do Humberto Gessinger que diz “ Se eu soubesse
antes que sei agora/ erraria tudo
exatamente igual” (Surfando Karmas e DNA).
Enfim...
Nasci em 1965,
no século XX que foi de muitas guerras
e da estreia da guerra televisionada ao vivo na década de 1990 - e a Guerra do Golfo é certamente
inesquecível para a maioria das pessoas que a viveram através da imagem da
televisão. Comecei a ser professora na década de 1980, num período em que a sociedade brasileira
clamava por muitas mudanças, desejava maior liberdade do ponto de vista
político e social, sem necessariamente compreender o significado efetivo disto,
prova é uma parcela da população brasileira desejar o retorno dos militares ao
poder sem compreender que um estado militarista está via de regra submetido as
regras impostas pelo setor que é intensamente hierarquizado e autoritário – o
que poderia significar encobrir pelo respeito a autoridade situações de
desmando e de excesso. Na verdade temos que descobrir o que preferimos... mas
que democracia é bom, é. Nela pode-se dizer o que se deseja ( assumindo as
consequências do que se diz e do que se faz). O governo de Dilma não é bom do
ponto de vista das promessas de campanha e do descontrole político e
administrativo, da politica de alianças – e não nos enganemos que o problema
sozinho é o partido da presidente, a responsabilidade é dela, do seu partido e
de toda politica de aliança que foi necessário fazer para não deixar o poder.
Ah, a vantagem da democracia? A gente sabe o que está acontecendo. Mas antes se
construiu Itaipu com base em empréstimos junto ao FMI e por tabela colaborou-se
com o endividamento externo da Argentina e do
Paraguai, emprestando dinheiro para que estes entrassem na sociedade da
construção; derramaram-se milhões na Transamazônica e em outras estradas não
concluídas... e tantas outras rodovias, ferrovias, acordos bilaterais, etc,
etc, etc. O que também não pode é a gente dizer tá, eu fiz, mas olha só o outro
também fez. Eu sempre digo: eu não faço e ponto!!! Não é porque o outro foi
corrupto que estou autorizado a ser também como se a gente ficasse medindo a
“qualidade” da corrupção.
A Escola da
década de 1980 era uma escola com incontáveis menos recursos que a escola deste
nosso tempo de agora, o que não significa que já tenhamos migrado do binômio
giz/quadro, estamos com mais recursos mas ainda despreparados para fazer uso de
tantos recursos , mas também muitas vezes a escola do ponto de vista estrutural está despreparada
– tem computador mas o sinal de internet é eventual... tem quadro interativo,
mas muitos de nós ainda não sabe fazer uso, tem mais livro didático, mas nossos
planos de estudo e estes nem sempre convergem, sendo que o tempo para se pensar
a convergência é curto.
Mas esta
década de intenso desejo de mudança também estava no campo da educação e a nós
reivindicávamos mais e mais articuladamente do que hoje – ou esta impressão é
porque estamos desacreditando, ou
desistindo... ou porque estamos nos acomodando? Isso é difícil de afirmar. Mas
eu sempre digo, estou falando sobre a
minha vida e a minha prática e talvez o que eu esteja dizendo não aconteça da
mesma maneira com vocês. Esta é uma questão que gosto de destacar, falo sempre
a partir das minhas experiências e quando não experimentei, eu digo, isso eu
ainda não experimentei fazer, mas bem que poderia.
No meu
processo de constituição como ser humano muitas vezes se entrelaçaram elementos do ser mulher, do ser mãe e ser
professora - e isso acontece com todos
nós, misturamos para ser o que somos. É
assim que fazemos nossa identidade.
E é assim, na medida que entrelaçamos os vários
elementos da nossa vida que vamos
compreendendo mais e melhor o mundo e a vida. A militância sempre foi um
elemento central na minha história. Hoje sou militante pela vida e pelo amor. O
que descobri é que sempre fui militante por um mundo constituído por relações
mais amorosas. Relações amorosas incluem a crença em um mundo e uma vida
melhor.
Oficina Mês de Março
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Oficina Mês de Maio
Oficina 15 de junho de 2015
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