No dia 23 de agosto ocorreu o encontro do PEIF, na Escola
Estadual de Ensino Médio Carlos Bratz, na Linha São Carlos, interior do
município. Participaram do encontro, a equipe do PEIF, os alunos da escola, monitoras do programa Mais Educação e os
professores da instituição.
O professor Gilberto Corazza, iniciou explicando a importância do
PEIF, que veio para auxiliar a
escola. Em seguida, um grupo de alunos apresentou o projeto de
pesquisa que realizou, o qual constitui-se em um
trabalho sobre as usinas Garabi e Panambi, que afetarão diretamente o
município de Porto Xavier e a região.
Os estudantes alertaram para um problema que irá ocorrer com o
abastecimento de água do município quando a barragem for construída, pois até o
momento a água que é consumida pela população advém do Rio Uruguai e, pelo fato
da água estar em constante fluxo, o tratamento realizado pela CORSAN, garante a
qualidade da água consumida. Mas com a criação da barragem a água permanecerá
parada e irá ocorrer o acúmulo do lixo e a proliferação de bactérias que os
tratamentos realizados pela CORSAN, provavelmente não conseguirão controlar
diminuindo, assim, a qualidade da água que será oferecida aos munícipes. Destacaram que inúmeras espécies de peixe desaparecerão
do rio, por serem espécies que necessitam de água corrente, bem como o
crescimento descontrolado dos peixes piranha, os quais irão atacar as demais
espécies e gerar o desaparecimento das mesmas.
Foi abordado que os animais que residem na região costeira, terão
que migrar para outras áreas gerando assim o desequilíbrio ambiental.
Através da construção das barragens o Rio Uruguai irá
atingir a marca de 89 metros acima do nível do mar, ou seja, em Porto Xavier
irá alagar 13 metros, fazendo com que inúmeras famílias necessitem abandonar
suas residências, mudando-se para outras áreas do município ou mesmo da região. Na região serão atingidos 18 municípios de forma direta, bem
como, cerca de 213 pescadores brasileiros registrados, irão perder sua forma de
sustento, sendo que deste 135 são do município de Porto Xavier e não possuem
extensões de terra, gerando assim a dificuldade de receberem qualquer valor
indenizatório. Os alunos destacaram que realizaram entrevistas com vários
pescadores e todos se posicionaram contra a construção das barragens.
O segundo grupo de alunos, apresentou o seu trabalho
realizado referente às barragens, destacando, inicialmente, o aumento
considerável do consumo de energia da população e a diminuição do petróleo, o
qual segundo eles irá extinguir-se dentro de 50 anos, em função do seu consumo
desenfreado. Apresentaram um breve histórico da energia hídrica, inicialmente
utilizada para mover a roda d'água. No século XVIII foram realizadas
descobertas físicas da água que geraram a descoberta real do potencial que a
água possui como fonte de energia. O Brasil adota em grande escala a geração de energia através
do uso da água, em função da sua abundância no território e das planícies
acidentadas sendo que o país possui a segunda maior hidrelétrica do mundo.
Os alunos também trouxeram os problemas que a construção das
barragens irão gerar a nível local e regional. Conforme suas pesquisas,
identificaram que a construção do lago artificial, irá mudar a umidade do ar e
assim influenciar a frequência das chuvas, gerando um desequilíbrio ambiental
de grandes proporções.
O Rio Uruguai possui 1700 km de extensão, e já foram
construídas sete usinas hidrelétricas ao longo de sua extensão. A construção de
mais duas hidrelétricas irá gerar grandes perdas dos pontos turísticos do Rio
Uruguai e também atingir as reservas legais existentes, já que 100 000 ha de
terra serão inundadas, gerando uma perda irreparável à fauna e flora.
Outro grande problema apontado pelos estudantes consiste em:
Para onde vão os agricultores que necessitam abandonar suas propriedades? Porque, apesar de possivelmente receberem uma indenização, esta dificilmente será
suficiente para reestruturar as propriedades em outros locais. Destacaram que das sete usinas já existentes no Rio Uruguai,
apenas duas estão nas mãos de empresas brasileiras, ou seja, a riqueza
produzida por aqui, não fica aqui, vai para fora.
Deixaram claro também que as informações que chegam a população
de Porto Xavier referente a construção da barragem, são “duvidosas” e
distorcidas, nunca claras e objetivas.
Uma informação que era repassada para a população, a
respeito da construção da barragem, afirmava que nunca mais iria ocorrer uma cheia, pois
as barragens impossibilitam esse fenômeno natural, porém nos últimos dias o
município e toda a região enfrentaram a maior cheia da história. Ao final os alunos realizaram um apelo da grande necessidade
da comunidade se unir e lutar contra as barragens.
O professor Corazza, fez referência sobre a Marcha
Mundial das Mulheres, que no ano de 2005, passou por Porto Xavier e durante esse
percurso pelo mundo criou a Carta da Marcha Mundial das Mulheres para a
Humanidade. Destacou, também, a importância que a escola tem para auxiliar
a comunidade a realizar uma análise crítica sobre a construção das barragens.
Braga ao fazer uso da palavra, destacou que participa a mais
de 15 anos da luta contra as barragens. Enfatizou que não é contra o
desenvolvimento e, sim, a forma como este desenvolvimento está sendo realizado.
Citou o exemplo da serragem que é produzida em Misiones, e que se esta fosse
utilizada como matéria-prima para a produção de energia, não seria necessário
construir as duas barragens, lembrando que as barragens não são uma forma de
produção de energia limpa e gera altos índices de gás metano. Trouxe um dado muito interessante no qual consta que a
organização mundial da saúde é contra a construção de barragens em lugares de
clima subtropical, pois estas acabam gerando muitas doenças, como a dengue, esquistossomose, malária, dentre outras. Apontou ainda que a água é um bem essencial para a nossa
vida e que devemos defendê-la, além de que, as terras que serão submersas são
extremamente férteis. Só na Argentina mais de 250 hectares de floresta serão
atingidos.
Já a diretora da escola foi bem objetiva quando destacou que
eles temem pela extinção da escola, pois grande parte de seus alunos serão
atingidos pelas barragens e necessariamente terão que ir para outro lugares,
enfraquecendo assim o grupo escolar, a ponto da escola fechar nos próximos
anos.