quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A Problemática do Diálogo Intercultural

No dia 14 de agosto, ocorreu a oficina do professor Lívio  Arenhart, da UFFS- campus de Cerro Largo, com o tema: A problemática do diálogo intercultural, na Escola Estadual Antônio Fioravante -CIEP. A seguir, disponibilizamos uma resenha, produzida pelo professor Lívio, acerca das questões enfocadas no encontro.
                Distinguindo-se das posições mono e multiculturalista, a postura de quem promove o diálogo intercultural foca ao mesmo tempo as necessidades humanas do pertencimento comunitário, do acesso aos recursos econômicos e simbólicos e da conexão às redes informacionais. Enfrenta os problemas da diferença cultural, da desigualdade social e da desconexão comunicacional. Essa posição desvia da forma binária de pensar, que, indolentemente, opõe dominados e dominadores.
            Na perspectiva do interacionismo simbólico, a problemática da interculturalidade implica lidar com os contextos institucionais como ordens negociadas em que se mesclam formas de vida de múltiplos grupos que, pragmaticamente, constituem-se como polos de poder, demandando e negociando a realização de seus fins e valores.
            Levando-se em conta que o império capitalista (promete, mas) não proporciona trabalho, educação, saúde e o atendimento de outras necessidades humanas, torna-se plausível que as comunidades populares não se subordinem completamente à lógica da acumulação capitalista. A vida social deve, portanto, ser vista como se movendo segundo lógicas diversas. Uma dessas outras lógicas é a da luta pelos direitos fundamentais, expressão ético-axiológico-jurídica das necessidades humanas não satisfeitas. Onde e quando as lógicas sociais se revelam contraditórias, os conflitos se desdobram também na forma de luta cultural-simbólica, dando lugar à imaginação de outras formas de vida nos mitos, na literatura, nas histórias em quadrinhos, etc. Como a lógica dominante não consegue subsumir as outras, éimpossível viver social, cultural e informacionalmente em um único mundo.
            Assim, apesar de seus sofrimentos, pelo fato de viverem em mundos diversos, os migrantes e os exiladossãoa principal referência para pensar a interculturalidade. Por referência a eles, a reconstrução de nossas identidades exige uma inteligência de passagem. As identidades são móveis, recombináveis, mescladas, híbridas, figuráveis por metáforas. Daí a importância da metáfora da hibridação para pensar o diálogo intercultural. A hibridação desautoriza nossa pretensão de subsumir os outros a nossos esquemas de pensamento. Cobra-nos reconhecermos que não sabemos como chamar os outros. Os outros nos interpelam a partir de fora de nosso horizonte de sentido.
            Entretanto, isso não nos autoriza a ficarmos acomodados em visões fragmentadas do mundo. O princípio da emancipação, uma das promessas que a forma capitalista de vida social não consegue cumprir e que orienta a luta social, cultural e informacional pela efetivação dos direitos fundamentais, impede que percamos de vista a referência à totalidade e que nos atenhamos à celebração conservadora dos fragmentos. A articulação desse princípio com a metáfora da hibridação faz-nos buscar um mundo culturalmente, assim como biologicamente, colorido, múltiplo, heterogêneo, por oposição à homogeneização promovida pelo império capitalista.
            Aliás, é precisamente a compreensão dessa tendência homogeneizante do capitalismo que nos permite ver o lado positivo do etnocentrismo, tão criticado pela posição multiculturalista. Para qualquer grupo (politicamente) minoritário, o reconhecimento da incompletude e da relatividade de sua forma cultural de vida pode resultar em autodestruição coletiva. O etnocentrismo deve ser visto como uma posição de autodefesa em relação à lógica avassaladora do império capitalista, cuja cultura exerce um efeito cáustico sobre as culturas dos grupos minoritários, quando estes não levantam defesas vigorosas de seus segredos culturais, mesmo não excluindo a demanda pelos mais avançados meios tecnológicos de comunicação.
            Um aspecto importante do diálogo intercultural é que ele se respalda numa postura de respeito à dimensão mítico-simbólica da vida dos interlocutores de outra cultura, dimensão em que as comunidades conferem sentido a sua vida. Não convém aos interlocutores de culturas diferentes pretenderem, mediante distinções conceituais e argumentos, a construção de sínteses teóricas entre as culturas. Ninguém pode colocar-se em lugar de sobrevoo para tal. Por isso, tanto a agenda quanto o método do diálogo intercultural terão de ser construídos no percurso. Naturalmente, isso não exclui, ao contrário, implica a compreensão das razões e/ou motivações pelas quais os outros creem no que creem, fazem o que e como fazem. Não se pode amar algo sem que se tenha um mínimo de familiaridade com esse algo.

Livio Osvaldo Arenhart

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